A raiva – por que sentimos esta emoção?
A raiva é como o ar dentro de um balão: quando validamos esta emoção, estamos a deixar o ar do balão sair devagarinho e, assim, a raiva e outros sintomas que a acompanham vão-se dissipando. É assim que explica Adele LaFrance, psicóloga clínica e especialista em terapia focada nas emoções.
A validação emocional implica reconhecer, compreender e aceitar a nossa própria experiência emocional e a dos outros. A raiva é uma das emoções básicas do ser humano, tal como a tristeza, a alegria ou o medo, e funciona como um mecanismo de protecção. Quando nos sentimos frustrados ou ameaçados por algum perigo, a raiva ajuda-nos a comunicar que algo está errado e a agir. Quando suprimimos a raiva, esta torna-se tóxica e pode alimentar outros problemas como a depressão ou perturbações de ansiedade.
O primeiro passo para validar a raiva é reconhecer esta emoção. Às vezes, as crianças ou mesmo os adultos suprimem a raiva porque receiam que as pessoas de quem gostam se afastem. A melhor forma de mostrar que isso não vai acontecer é comunicar que é normal sentir raiva em certos momentos. Comece por ouvir atentamente as razões que causaram raiva. Depois reflicta sobre a situação: “Eu percebo que te sintas frustado, ou zangado ou injustiçado, ou _____, quando ________ porque ________ e porque ________.”
Porque é que validar emoções parece tão simples e, ao mesmo tempo, é tão difícil? Porque somos humanos e o comportamento defensivo é uma reacção automática à raiva ou à ameaça. Ao longo das gerações, as normas sociais também condicionaram-nos a pensar que a expressão da raiva é inaceitável e fomos aprendendo a suprimir a raiva ou outras emoções negativas para evitar o conflito. O problema é que as crianças que não aprendem a exprimir a raiva de forma assertiva e a comunicar as suas necessidades têm maior probabilidade de serem vítimas de bullying ou de terem dificuldades de relacionamento. Estas dificuldades tendem a persistir na idade adulta.
A capacidade de manter a calma e demonstrar empatia nestes momentos, ajuda não só a lidar com a raiva, mas também com outras emoções. Uma pessoa que se irrita facilmente ou explode de raiva com muita frequência provavelmente não sente apenas raiva, mas outras emoções mais complexas como o medo, a solidão, a tristeza ou a vergonha. Primeiro temos de perceber o que está dentro do balão para depois arrumar a confusão. E assim o balão vai esvaziando devagarinho.
REFERÊNCIA: La France A. ; Henderson K.A.; & Mayman S. (2020). Emotion-Focused Family Therapy: A Transdiagnostic Model for Caregiver-Focused Interventions. American Psychological Association, Washington, DC.