As histórias que trazemos cá dentro
Há livros que lemos e livros com os quais conversamos. Os livros que conversam connosco contam as histórias que trazemos cá dentro e ensinam-nos a reflectir. Mostram também que não estamos sozinhos na noite escura; que há sempre palavras para descrever o que sentimos e que, quando escrevemos frases longas, temos de fazer mais pausas. Quando a dúvida, o medo ou a solidão aparece, não há nada como ler: “Era uma vez… “ ou ouvir: “Vou contar-te uma história…”
Os grandes mestres da terapia familiar, como Virginia Satir e Carl Whitaker, contavam muitas histórias na sala de terapia, muitas vezes sobre as suas vidas. Fora da sala terapia, os livros e as histórias podem também ajudar as famílias a conversar sobre emoções, dilemas e desafios. As histórias que uso na minha prática clínica, e que recomendo aos meus colegas e às famílias com quem trabalho incluem, por exemplo, os contos do mundo de Idries Shah, contos e lendas da mitologia grega ou tradicionais portugueses, e ainda as fábulas e contos de fada de Esopo, Hans Christian Andersen e os irmãos Grimm.
São contos antigos ricos em personagens e criaturas lendárias, magia e lugares encantados. Estão carregados de simbolismo e retratam temas que espelham a realidade humana.
Além dos clássicos, há ainda os contos e as lendas dos lugares onde crescemos que ilustram bem a cultura de cada país. Há também os livros que ficaram connosco desde a infância, como a Ana dos cabelos ruivos, Alice no país das maravilhas, o feiticeiro de Oz, as aventuras de Tom Sawyer ou Harry Potter.
E há também as histórias das famílias, de cada família. Já experimentou contar estas histórias em voz alta? Que história lhe vem logo à memória? Porque será que algumas histórias se perderam e outras se transmitiram ao longo das gerações? Quais os temas principais? E quem são as personagens? E se pudesse reescrever tudo de novo?